segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mais uma proposta corporativa para "regular" a imprensa

De repente, não mais que de repente, os donos de jornais decidiram debater um "código de ética" para a imprensa, em encontro promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), entidade que reune os empresários do setor. "Cautela" parece ter sido a palavra-chave do debate, expressando todo o receio, para não dizer verdadeiro pavor, que a "grande" imprensa tem de uma participação ativa da sociedade no acompanhamento e questionamento das suas atividades. Falou-se de "autorregulamentação", mas do quê e de quem? A resposta é clara: os próprios empresários pretendem estabelecer sua regulamentação, à margem dos interesses da sociedade, da categoria dos jornalistas (que já dispõe de um código de ética discutido em encontro nacionais) e da população em geral.  Um desses empresários, segundo a cobertura do debate publicada na página da ANJ, evidenciou o objetivo final da proposta: "Vamos fazer logo antes que outros o façam".  É mais uma proposta corporativa para não dar em nada, para fechar a discussão.  Quem quiser pode ver o que publiquei aqui no blog sobre o assunto, em janeiro, maio e junho deste ano, demonstrando a necessidade de um organismo de mediação entre a sociedade e a imprensa, com maioria de representantes de diversas áreas, inclusive jornalistas,  e minoria do governo e dos próprios empresários. Não se trata de um clube de discussões filosóficas ou de qualquer tentativa de criar mais uma mordaça (que já existem de sobra). Trata-se de permitir que qualquer cidadão ou grupo supostamente prejudicado por notícias mal elaboradas ou infundadas possa reivindicar seu direito à reparação (em termos jornalísticos, não em dinheiro - esta fica para a Justiça), mediante acordo entre as partes.
Pena que a Associação Brasileira de Imprensa, a venerável ABI, fuja do assunto.