quarta-feira, 13 de outubro de 2010

No fundo do poço da salvação dos mineiros chilenos

De fato, a salvação dos mineiros chilenos é uma demonstração emocionante do que são capazes os seres humanos quando se juntam para fazer algo que preste. Combinando alta tecnologia (até da Nasa), solidariedade, perseverança e apoio de mídia, os trabalhadores soterrados estão sendo salvos da morte, um a um. Pena que todas essas qualidades virtuosas não tenham sido mobilizadas antes pelos proprietários da mina de cobre San José, controlada pela Compañía Minera San Esteban Primera Sociedad Anónima. Entre 2004 e 2010, a companhia recebeu 42 multas por quebra dos regulamentos de segurança.  Em 2007, a mina foi fechada em razão de um processo movido pela família de um mineiro morto em serviço. Mas foi reaberta em 2008, apesar de ter continuado a infringir as normas, segundo o senador chileno Baldo Prokurica, integrante de uma comissão parlamentar sobre o assunto. E, segundo a AFP, em 6 de setembro, depois da última tragédia, um tribunal chileno decretou intervenção na empresa que (surpresa!) pediu falência.  "A companhia que represento está num estado tal que não pode enfrentar seus compromissos mais imediatos, tendo já cessado o pagamento de uma obrigação mercantil", diz o documento de falência, assinado pelo representante Alejandro Bohn.

Certamente é preciso estar, como diz o samba, em estado de grande necessidade para aguentar o trabalho insano a 700 metros de profundidade a serviço de uma empresa que não demonstra o menor respeito às suas obrigações sociais e trabalhistas. E recorre ao Estado para ganhar cobertura e livrar a cara dos seus proprietários.

Pior, todas essas informações, que mal aparecem na imprensa "livre", podem ser encontradas de graça na Internet.