segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O que veio depois explica o que veio antes

É possível que em 1956, quando foi inaugurada a escola nos Estados Unidos onde um maluco (?) massacrou 26 pessoas, além da própria mãe na casa dele, já não existissem mais anúncios de propaganda de armas como o que vemos abaixo: um bebê brincando com um provável calibre 38, por que "papai disse que não vamos nos machucar". Mas é certo que esta propaganda insana e tantas outras alimentaram desde o berço a obsessão nacional dos americanos pelas armas de todo qualquer calibre. No Brasil, até agora não conseguimos uma condenação social e pública do comércio de armas, que parece mais poderoso do que a indústria de automóveis.
  


sábado, 1 de dezembro de 2012

"Feroz e covarde"


Se os jornalões brasileiros aplicassem a si mesmos o rigor moralista com que perseguem os ditos mensaleiros e patrulham os votos de ministros do Supremo Tribunal Federal, dificilmente continuariam existindo. Falta a seus proprietários e empregados de confiança a decência de reconhecer que,como em qualquer empresa, o que os sacrossantos donos de meios de comunicação perseguem não é o saneamento profundo do sistema eleitoral ( e do sistema financeiro que os sustenta), mas sobretudo o lucro e a manutenção do poder de enrolar o povo. O jornalista Mino Carta, da revista "Carta Capital", escreve as palavras certas, quando se refere ao modelito dominante nos jornalões impressos e audiovisuais: "Difícil, senão impossível, achar mundo afora figurinos parecidos com o verde-amarelo. Onde encontrar uma imprensa de pensamento único, alinhada ao mesmo lado sempre que entende o privilégio ameaçado? País singular, o Brasil, submetido aos talantes e aos caprichos de uma sociedade feroz e covarde, sorrateira e jactanciosa".

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Para os que acabam de nascer

Há dias, nasceu o meu primeiro neto, João. É a ele que dedico estas palavras , trechos do relatório do "Painel de Alto Nível do Secretário Geral das Nações Unidas sobre Sustentabilidade Global".

"Em 2030, uma criança nascida em 2012 - ano de publicação de nosso relatório - completará 18 anos. Teremos feito o suficiente nos próximos anos para dar-lhe o futuro sustentável, justo e resiliente que todas as crianças merecem? ".

" O modelo de desenvolvimento global atual é insustentável. Não podemos mais presumir que nossas ações coletivas não irão desencadear pontos de ruptura ao se ultrapassarem limiares ambientais. arriscando a ocorrência de danos irreversíveis tanto aos ecosssistemas quanto às comunidades humanas ( que fazem parte destes ecossistemas, N.do R.)".

Diz ainda o documento que 25 anos depois da criação do conceito de desenvolvimento sustentável, este "continua sendo um conceito de aceitação generalizada em vez de uma realidade prática cotidiana".

Afirma também que "os governos, os mercados e pessoas precisam olhar além das agendas de transação e ciclos políticos de curto prazo. Os incentivos que atualmente favorecem a visão de curto prazo em tomadas de decisão devem ser alterados. Escolhas sustentáveis frequentemente têm custos iniciais maiores do que os negócios habituais. Elas precisam tornar-se mais facilmente disponíveis, acessíveis e atraentes tanto para os consumidores pobres quanto para os países de baixa renda". (Falta dizer o que deverão fazer os países ditos de "alta renda" [N. do R.]).

E agora, João?

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O desencontro


Recife (PE) - O programa Encontro com Fátima Bernardes tem sido mesmo irresistível a qualquer manifestação de boa vontade. Irresistível até de risos. A produção não precisava contratar humoristas, como foi noticiado: “para definir o elenco humorístico da atração matinal, Fátima não precisou mesmo de muito esforço. Marcos Veras disse que aceitaria o convite de qualquer forma. ‘Desde que soube que havia espaço para o riso no programa, eu me coloquei à disposição’. Além destes, ‘Encontro’ conta ainda com a participação do humorista Victor Sarro”. Para quê?  À sua revelia, o programa possui humor claro, desbragado, sobre as preocupações do mundo daslu. 
Não pensem que o colunista exagera. A realidade, escabrosa, já vem prontinha. Se duvidam, olhem só as enquetes, quadros e reportagens do esbarrão no Encontro: “Você dá mesada para o seu filho? Sabe dar o laço perfeito na gravata?  Sabe como pintar as unhas da mulher? Como é o processo de adoção de crianças na Inglaterra?” Hem? E mais esta: “Você sabia que no Japão a gorjeta é uma ofensa, mas nos Estados Unidos é obrigação?”. Imagine o leitor passar a vida sem saber as respostas dessas questões fundamentais.
Nos vários sentidos da palavra, o encontro com Fátima Bernardes tem sido mais de encontrão, de choque de corpos. Ou de encontro que é um embate, briga entre coisa nenhuma e quem se achava ser alguma coisa. Mais uma vez, insisto, não exagero.  
Nem mesmo em assuntos “femininos” a apresentadora está à vontade. Ao entrevistar profissional que faz unhas, ela,  a repórter, humorista  sem saber vai mal. Está em pé, e mais de uma vez, a entrevistada passa a impressão de ser mais inteligente que a estrela do programa. Fátima atropela a fala do entrevistado, em mais de uma entrevista, como era costume no Jornal Nacional. Será isso um estilo de entrevistador no comando?
Em outro instante, um quadro de comediantes com improvisações é mais constrangedor que elogio falso a filho de anfitrião. Mais primário que adolescente infantilizado. Na realidade trash da nova comédia, grossa, a graça de Fátima Bernardes fica perdida como se a apresentadora fosse uma barata sob inseticida. A coitada não sabe onde fica no chão, no palco.
Mas vamos ao mais grave. Mesmo quando fala de assuntos sérios, como a adoção de crianças, a estrela global não é técnica, informativa – está bem, isso não é sua praia -  nem “humana”, porque o programa deseja mostrá-la  diferente. Ela quer ser asséptica, clean, para usar o jargão, de uma realidade humana que não é limpa, nem suave nem pura.
Mais, de um ponto de vista técnico, o desencontro aborda várias pautas, em que uma só delas geraria um ou mais programas, como no caso da adoção. Por quê? É que o Encontro com Fátima Bernardes adota a feição frankestein de um noticiário, de um Jornal Nacional para a família. Mas a apresentadora só se sai bem no regime autoritário, de perguntas fechadas e tempo mínimo do JN. Assim como ela e o marido fizeram na entrevista com a candidata Dilma Roussef,  por exemplo.  
É incrível como os criadores da Globo levaram meses para produzir um encontro murcho, medíocre. Talvez porque desejassem a reinvenção da roda. Daí que pegaram um rosto conhecido, com aparência de madame frágil, “feminina”, e produziram um desastre. De um ponto de vista teórico, esses criadores dispunham de todas as armas, mas lhe faltaram inteligência e sensibilidade no gatilho, digamos. É claro,  considerações estéticas, revolucionárias, humanistas, jamais moveram os produtores. Eles querem o sucesso dos negócios da Globo. O problema é que o ibope – juiz supremo de suas vidas – caiu e ruma para a mesma audiência da simples logomarca, fixa, parada na tela, sem mais nada.  Com a imagem do resíduo da inércia.
O mercado – as pessoas que compram e consomem – mudou, e a produção e os chefões não viram. No país que elegeu Dilma Roussef, na terra e no tempo em que surge a memória dos anos da ditadura, em um mundo de crise funda do capitalismo, o Encontro com Fátima Bernardes elegeu e elege a realidade dos estúdios da tevê. Não veem nem sabem que a mulher não é mais a de antes, que mudou para melhor, apesar de todas infâmias sobreviventes. Essa nova pessoa o programa não descobriu, porque fala para uma velha mulher, de classe média, dos anos com mofo. Em pleno ar, entre as 10 e 30 e o meio-dia deste 2012 .
Deveria ser dito, enfim, Encontro com Fátima Bernardes está no ar, mas sem qualquer sustentação. E por isso vem caindo, no ibope e na zombaria.

Sobre o autor deste artigo, Urariano Mota - Recife. É pernambucano, jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado Fleury com o auxílio de Anselmo

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Lula, o declínio.



Com Maluf, se perder, perdeu. Se ganhar, também perdeu. Preço muito alto.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Luta pelo SUS

Estava passando em frente ao Instituto Nacional de Cardiologia, organização que fica em Laranjeiras, Rio de Janeiro e é referência nacional no setor, quando vi a aglomeração de funcionários em campanha por melhores salários, melhores condições de trabalho e mais verbas para o Sistema Único de Saúde (SUS). Recebi deles um impresso, dizendo: "A criação do SUS foi fruto de uma luta travada por sindicatos, associações de moradores, estudantes, professores e profissionais de saúde que, juntos, construíram um modelo que possibilitasse o acesso de toda a população brasileira à saúde pública, gratuita e com qualidade". Acrescenta que o mau funcionamento do SUS tem duas causas fundamentais: "falta de investimentos estatais e sucateamento dos hospitais, combinadas com a transferência de verbas à iniciativa privada".
Esta luta é das boas e está longe de acabar.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A verdade sem donos

"A verdade é filha do tempo, não da autoridade" (A presidente Dilma Roussef, citando Galileu Galilei (ao lado), durante a instalação da Comissão da Verdade, para apurar torturas e assassinatos contra presos políticos no Brasil).